José Chadan
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BREVE PANORAMA DA HISTÓRIA DO CONCEITO DE INDIVÍDUO
2.1 Idade Antiga
Na
história da filosofia, o indivíduo adquire dois sentidos. O
primeiro deles, a saber, seria o sentido lógico empregado por Aristóteles e
segundo o qual, o indivíduo seria a espécie- resultante da divisão do gênero, e
que não pode ser mais dividida, e nem servir de predicado a nenhum outro termo.
O segundo, seria o sentido físico, também empregado por Aristóteles, que afirma
de que a individualidade depende da matéria, ou melhor dizendo, da matéria
enquanto substância indivisível.
Na Idade Média por sua
vez, o indivíduo foi tido como algo que é comum a todos, porém que é uno e
singular; particular de cada um. Por exemplo: o nome de Sócrates se refere a
este rosto e a este corpo.
São Tomás distingue duas
espécies de indivíduos: o indivíduo vago,
que é apenas aquele que é numericamente distinguível. Por exemplo: numa sala de
aula onde há quarenta alunos, eu sou o de número vinte; e o indivíduo único, que se distingue dos outros pela sua
singularidade. Por exemplo: entre tantos moços de vinte e dois anos, eu me
chamo José Paulo, tenho tal cor, tal altura, tal jeito de ser e etc. Tomás
afirma também de que não é da matéria comum que depende a individualidade, por
exemplo, o corpo (já que todos os homens possuem um), mas que é da matéria
singular caracterizada por suas dimensões (tal corpo e tal forma).
Duns Scotto acrescentará
ao dito de Tomás e dirá que, nem só pela matéria e nem só pela forma a
individualidade se define, mas pelo composto das duas, que são a riqueza de
suas determinações.
Cabe frisar aqui, as
similaridades entre esse tipo de definição do indivíduo, como algo dependente
do composto entre matéria e forma, das infindas, ou melhor dizendo, das muitas
determinações do indivíduo, com a noção de indivíduo na filosofia moderna, como
em Schoppenauer, por exemplo.
Mas a parte as
digressões, sigamos o caminho. Falemos agora da corrente agostiniana e de seus
pilares acerca do indivíduo. Boaventura diz ser o indivíduo a comunicação entre
matéria e forma, não fugindo muito das definições elaboradas por filósofos
anteriores a ele. Ockham, que aderiu à corrente nominalista, negara a matéria
ou a substância comum, afirmando de que as coisas são indivíduos por si mesmas,
pelo simples fato de se diferenciarem das outras. No fundo, Ockham parece
dissipar o problema da universalidade, e por conseguinte, da individualidade,
pois dissipar a universalidade é consequentemente, dissipar a individualidade, que
embora opostas uma à outra, elas não podem existir separadamente. A
universalidade não pode existir sem a individualidade e a individualidade não
pode existir sem a universalidade. E se eu afirmo, como Ockham, de que a
universalidade não existe, isto é, não faz sentido, eu já não posso falar em
individualidade; e se ouso falar, estou falando de qualquer coisa, menos de
individualidade. Quero frisar com isso de que se a universalidade não faz mais
sentido, a individualidade também não o faz.
Leibniz,
o filósofo que expôs um novo conceito de substância o qual denominou mônada, a fim
de não causar confusão, afirmou ser impossível determinar um indivíduo tomando
como ponto de partida os outros indivíduos. O filósofo diz, de que precisamos
partir de dentro, ou melhor, do próprio indivíduo, a fim de entendê-lo. Pois as
mônadas tem afecções que lhes são próprias. Elas são únicas, se bastam a si
mesmas e são, por assim dizer, um mundo à parte. E se há interferência duma
mônada na outra, é apenas por causa da ordem ‘vertical’ estabelecida por Deus,
o que significa, que uma mônada não interfere de fato na outra, pois Deus, que
programou o relógio monadológico, já previa tal ação e tal reação. Visto por
esse prisma, as mônadas foram programadas e estão em constante harmonia umas
com as outras. Vê-se aqui, pela primeira vez na história da filosofia, o
conceito de subjetividade, segundo o
qual o homem é ele mesmo, fundamento de seus atos e representações; autonomia,
pois as mônadas se bastam a si mesmas; e independência,
sendo cada uma delas um indivíduo e sem conexão direta com nenhuma outra
mônada. A filosofia leibniziana, marca o nascimento do individualismo e do
sentido ético mesmo, que tal filosofia carrega ( o indivíduo fechado em si
mesmo e submisso à sua lei, a fim de harmonizar-se com os demais).
Acontece então, algo na
história da filosofia que continuará até a modernidade: O cuidado de si não é
mais incompatível com a ordem racional do mundo. Eis o indivíduo, programado à
realizar sua essência num mundo igualmente pré-estabelecido e cheio de individualidades
pré-estabelecidas. Eis Hegel, levantando sua bandeira, ou melhor, erigindo seu “castelo”
(mas falemos dele depois).
A definição leibniziana se
assemelha a de Scotto, que ao colocar em questão a relação e composição entre
matéria e forma de cada ser, tira de cena [ainda que não totalmente] a
universalidade, tornando possível o pensar a individualidade. Eu diria que para
Scotto, a singularidade deve ser pensada segundo a particularidade.
Wolf fala que o indivíduo
é aquilo que é único e determinado em todos os aspectos. Wolf se assemelha
então a Leibniz e a Scotto em sua definição, aliás, a definição de Wolf na
verdade, é um desdobramento da definição de Scotto. Tal definição foi adotada
pela filosofia moderna; segundo a qual o indivíduo é algo infinitamente
determinado.
Contudo, deve-se notar o
fato destas soluções serem na realidade, negações do problema do indivíduo.
Problema este, que desaparece na filosofia moderna; para a qual, a questão da
substância ontológica perde o sentido.
Entra então no cenário
filosófico o famoso e ilustre Hegel, a definir todos os conceitos incompletos e
arrumar para eles, um lugar no seu imperioso Sistema. Hegel distinguirá o
indivíduo universal do indivíduo particular. O primeiro sendo o espírito
auto-consciente; a consciência mesma, ou o pensamento, que tendo feito a
trajetória desde os pré-socráticos até ele, Hegel, passara pelo processo do
conhecimento, ou seja, entre teses, antíteses e sínteses, passara do não-saber
ao saber, adquirindo com isso, infinitas determinações- até que um dia culmine
no Espírito Absoluto; se é que já não culminou(?). A história do saber,
alcançou Hegel (o último dos filósofos) e cessará com ele (ele afirma). E o
indivíduo particular, o espírito não acabado, isto é, os fatos históricos que
não comportam tudo, mas apenas aspectos do grande Sistema. O espírito não
acabado é apenas determinado sob um aspecto, enquanto que o espírito
auto-consciente é infinitamente determinado. Imaginem o espírito auto-consciente
como um quebra-cabeça inteiro e o espírito não acabado, apenas como parte dele.
Hegel se apropria da teoria leibniziana, e une, por assim dizer, indivíduos e
uma Razão universal que os guia numa determinada direção; a diferença é que
enquanto Leibniz concebia essa Razão como ‘vertical’, Hegel a traz para a
imanência, de acordo com a sua lógica triádica.
Na filosofia
contemporânea, não faz mais sentido falar num indivíduo do tipo aristotélico,
ou até hegeliano; ou seja, não faz mais sentido falar em indivíduo no sentido
clássico da palavra. Pois o que acontecia na tradição clássica, ou para ser
mais específico, em Leibniz e Hegel, é que o indivíduo não era completamente indivíduo;
de algum modo, ele dependia do todo, de uma ordem universal, dos outros e assim
por diante.
Mesmo Bergson, fala da
impossibilidade da individualidade se realizar plenamente. O indivíduo, segundo
Bergson, não é plenamente determinado; e sob este enfoque, o Espírito Absoluto
do qual nos fala Hegel, é inatingível, e sendo inatingível, não faz sentido
falar nele, pois o conceito se torna inútil quando se torna inatingível,
inacessível e incompreensível... quis dizer, inacessível.
Por fim, na filosofia
contemporânea, o indivíduo é definido segundo a ciência ou o método que o
analisa: Na política, é a pessoa; na biologia, é o organismo ou a célula; e
etc. O que concluímos além disso, é que, as ciências do espírito, tais como a
política, a sociologia, a história, tem um caráter individualizante e as ciências
naturais, tais como a biologia e a física, tem um caráter generalizante. E do
ponto de vista histórico, o indivíduo é visto distintamente dos indivíduos com
os quais estabelece uma relação causal. O indivíduo é visto em sua
singularidade e não-repetibilidade, seja esse indivíduo um fato, uma pessoa,
uma instituição etc.
3.
A VIDA DE SÖREN AAYBE KIERKEGAARD E OS REFLEXOS DESTA EM SUA OBRA
Sören
Kierkegaard nasce no dia 5 de maio de 1813 em Copenhague, na Dinamarca. Sétimo
filho de Pedersen Kierkegaard, que trabalhara com malharia, mas aos quarenta
anos se afastara do comércio. Que nutrira também, interesses por filosofia,
religião e teologia. Seus filhos morreram todos, restando-lhe apenas dois:
Peter e Sören. Peter tornou-se pastor e depois bispo em 1856; e Sören, apesar
do sucesso nos estudos, permaneceu escritor. O pai Pedersen, falecera em 1838.
A
filosofia de Sören Kierkegaard, é fruto de toda sua vida; de sua própria
existência. Um dia, Sören descobriu (mas ele não relata como) que seu pai (a
quem Sören tinha em alta-estima como irrepreensível), pecara gravemente contra
Deus. No primeiro ano após a morte de sua primeira mulher, que não lhe dera
filhos, Pedersen, casa-se com a criada, que dá luz a filhos dois meses depois.
Pode-se supor aí, e friso, supor, um caso de estupro. Por esta descoberta,
Sören em 1836 rompe com o pai, deixando de lado os estudos de teologia e se
dedicando a literatura à moda estética de seu tempo, assim como se entregando a
uma vida de libertinagem.
Porém,
Sören, reconcilia-se com o pai, um pouco antes que este morresse e escreve em
seu diário: ‘ Ele morreu não para mim, mas por mim, a fim de que, se possível,
alguma coisa ainda possa sair de mim’ II, A, (243). Então, ele retorna aos
estudos de teologia; o qual conclui em 1840. Defendendo sua tese ‘ O Conceito
de Ironia Constantemente Referido a Sócrates’ no dia 29 de setembro de 1841. em
seguida, ocorre o fracasso de seu noivado com Regine Olsen; moça dezoito anos
mais nova que Kierkegaard; o qual ele conhecera em 1837. Kierkegaard achava
impossível manter a relação, pois para ele, num matrimônio não deveria haver
segredos. E ele, jamais conseguiria lhe falar sobre o segredo de seu pai e sua
vida libertina que tivera outrora.
Após o
rompimento do noivado, Kierkegaard vai à Berlim assistir os cursos de Schelling,
que discursava sobre a união entre o pensamento e a realidade. O filosofo
dinamarquês então, inspirado por essa fonte, buscará uma filosofia que expresse
sua experiência pessoal nos diferentes níveis da existência. E buscará romper
também os limites antigamente estabelecidos entre filosofia, teologia e
literatura.
A produção da obra de
Kierkegaard vai de 1843 à 1846. Em 1845, tendo sua obra como acabada,
Kierkegaard cogita o pastorado, porém desiste; pois O Corsário (jornal da
época) satirizava homens que cumpriam seu dever para com o Estado. Nos anos de
1847 à 1851, publica escritos cristãos e em 1854, artigos contra a igreja
luterana dinamarquesa. E no dia 2 de outubro de 1855, Kierkegaard desmaia no
meio da rua e é levado para o hospital. Morre em 11 de novembro, sem que os
médicos detectem a causa da sua morte.
Kierkegaard, partindo dos
seus problemas pessoais (como fora dito anteriormente) questionou-se acerca do
que é ser cristão; acerca de como assumir o cristianismo herdado por seu pai;
de como superar o noivado fracassado; de como o sofrimento pode ser encarado
como um bem, assim como o prega o cristianismo; e tudo isso se resume em: como
compreender a existência, ou, como compreender-se na existência.
E apesar de Sören
investigar acerca da existência e de temas concernentes a ela, Sören nunca quis
ser chamado filósofo; pois ele se considerava um autor religioso. Há um livro,
no qual ele expressa bem sua posição; que é:
Ponto De Vista Explicativo Da
Minha Obra Como Escritor. Nele será abordada a questão do indivíduo e como
ele a compreendia.
O
individuo, tema principal na obra kierkegaardiana e que está presente nela de
ponta-a -ponta. O indivíduo é o sujeito capaz de ser moldado; capaz de assumir
responsabilidades; capaz de se apropriar duma verdade e viver segundo ela. O indivíduo
é o oposto da multidão, da massa. A multidão é um corpo que não possui mãos ou
braços, incapaz de assumir responsabilidades ou de se apropriar duma verdade
subjetiva. A multidão é a fonte da mentira. Ora, nenhum soldado se atreve a
levantar a mão a Caio Mário,- diz Kierkegaard- mas se fossem muitos, o fariam!
Se todos agem, é como se ninguém agisse, pois é somente quando um age, que tal
se responsabiliza, não podendo se desculpar dizendo: ‘eu não fiz isso, foi
ele’. A massa no melhor dos casos, reparte a culpa entre todos os indivíduos de
modo a minimizá-la ao máximo.
Dito isto, Sören mostrará
que as instituições são formadas pela massa e tal, não tem poder de reflexão.
Qual a diferença entre o campo político e religioso? Afirma Sören: é o fato de
que, apesar de ambos buscarem a igualdade entre os homens, um o busca no plano
material e fracassa e outro o busca no plano espiritual e tem êxito. Pois a
igualdade entre os homens deve ser buscada não no seu ser animal, mas no seu
ser espiritual, visto que o primeiro difere em muitas coisas uns dos outros e o
segundo se nivela em e a todos, na medida de que somos todos pecadores e
necessitados do auxílio e do perdão divinos.
Na
busca pela igualdade entre os indivíduos, a qual, diz o filósofo dinamarquês,
só é possível no plano religioso, adentrará a questão da Verdade. A Verdade é
interior de cada um, e também subjetiva de cada um. A Verdade é a maneira como
Eu, indivíduo singular, me aproprio subjetivamente do mundo no qual vivo; é também
Cristo vivo nos corações, mas mais propriamente, no meu, e como eu O percebo. A
Verdade é tudo o que diz respeito a minha particularidade, interioridade e
subjetividade enquanto individuo. As questões à partir daí suscitadas são: como
se dá a relação Indivíduo/Verdade ou Indivíduo/Absoluto e se é justo que alguém
se deixe morrer pela Verdade.
Sobre todas essas
questões trataremos adiante...
5.CONCLUSÃO E SUGESTÕES PARA FUTUROS
ESTUDOS
O indivíduo é o conceito
fundamental da filosofia kierkegaardiana; a qual, se preocupa em dizer,
como ele, isto é, o Indivíduo, vive,
existe, apreende para si uma verdade que dê sentido a sua vida e etc. O indivíduo
por assim dizer, perpassa toda obra kierkegaardiana; desde o estágio estético
até o religioso; e tais, também perpassam o indivíduo; posto que esses estágios
não são de modo algum uma espécie de evolução, uma escada que, logo após tê-la
subido, se joga fora. Porém, tais estágios estão sempre presentes na vida do
Indivíduo; o qual está ao mesmo tempo no estético, no ético e no religioso. Isto
porque, nem um dos estágios é bom ou ruim em si mesmos; eles são bons ou ruins,
dependendo da co-relação que o próprio Indivíduo faz deles.
Os arquétipos dos quais
Kierkegaard se utiliza, servem muito bem, para demonstrar o que são os estágios;
quais podem ser os estilos de vida do Indivíduo que neles está e por fim, qual
deve ser ‘a saída’ a fim de que se supere tal estágio. Não que o Indivíduo
esteja num estágio especifico (volto a repetir), mas que ele está sim, nos
três, contudo, manifesta claramente atitudes de um ou outro estágio; estando
nos três ao mesmo tempo, e em um de maneira mais enfática e especifica. Como se
o indivíduo ético, por exemplo, vivesse nos três estágios, e no entanto, como o
estético foi re-apropriado e o religioso ainda não foi totalmente apropriado,
ele vive por assim dizer, uma vida, estético-religiosa-ética. Onde os elementos
do estagio estético estão presentes de modo redimido, re-apropriado, digamos,
reformulado, e os elementos do religioso também estão presentes, mas de modo
não totalmente apropriados; digamos então, de modo postulado ou concebido. E
somente o elemento ético predomina, sendo este de fato apropriado e vivido pelo
indivíduo.
Considerando o indivíduo
mais de perto e o estudo de Kierkegaard sobre este, vemos que no fim das contas
o que o Filósofo quer para o indivíduo, independente dele viver mais em um ou
outro estágio, é que ele ache um sentido para sua existência. Que ele ache a
idéia pela qual ele deseje viver e morrer. Que a partir dela, ele se aproprie subjetivamente do mundo e das coisas e viva!
Viva, segundo a idéia que o motiva a viver. Kierkegaard quer vida subjetiva,
vida interior, vida que busca a Verdade e, portanto, vida que vale a pena ser
vivida.
Embora tenhamos tratado
aqui do Indivíduo e dos estágios, alguns conceitos poderiam ter sido abordados
neste trabalho; mas que não o foram, devido a falta de tempo e de profundidade
no assunto. E o primeiro deles a saber, é o conceito de Massa do qual fala
Kierkegaard. A massa que é contraposta ao Indivíduo. Fala-se um pouco dela em Pontos Explicativos Da Minha Obra Como
Escritor, e uma das coisas que se diz é que enquanto que o indivíduo assume
totalmente a responsabilidade pelos seus atos, posto que foi ele e não outro
que o praticou, a massa não o assume. Na massa, ou todos se tornam magicamente
inocentes, ou dividem, isto é, repartem a culpa entre si, reduzindo-a, o que
também é mágico e absurdo.
À primeira vista, parece
que Kierkegaard está falando de massa, assim como de irresponsabilidade e de
Indivíduo, assim como de responsabilidade; a massa como portadora da mentira e
o Indivíduo, como único portador da Verdade; pela qual ele dá sua própria vida,
ou pela qual ele está disposto a viver e morrer; o mote da sua existência,
digamos. O conceito de massa se encaixaria então em ‘O Indivíduo e A Sociedade’
(se aqui fosse inserido).
Além do conceito de
massa, deveríamos passar ao capitulo ‘O Indivíduo E A Verdade’; no qual,
inseriríamos os conceitos de cristicidade, cristandade e cristianismo.
Cristicidade, como algo que se refere à existência, à interioridade, a vida
cristã. Melhor dizendo, se refere ao apropriar-se subjetivamente do mundo e das
coisas e ao encarar a vida de maneira cristã e existencialmente cristã. A
cristandade por sua vez, seria o mundo cristão, o povo este ou aquele, que se
diz cristão, ou formado por cristãos; a nação cristã; os que partilham a mesma
fé em Cristo. Por fim, o cristianismo, sendo a própria religião; o conjunto de
dogmas e doutrinas delineadores do modo de pensar e agir cristão.
A impressão que se tem em
relação a tais conceitos, é de que a distinção entre eles é fundamental e que
Kierkegaard só os diferencia por estar preocupado com um único conceito: o
conceito de cristicidade. Ser cristão para Kierkegaard não tem nada haver com
pertencer a este ou aquele grupo que se reúne periodicamente neste ou naquele
lugar; tampouco haver com o conjunto de doutrinas e à regras de condutas; mas
tem haver sim, com a atitude existencial, com o apropriar-se da idéia de ser
cristão e a partir disso, viver como cristão. Significa achar uma verdade que
seja verdade para mim. Achar a idéia pela qual eu, um indivíduo, deseje viver e
morrer.
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